25 de agosto de 2011

Rádio Difusora Acreana completa 67 anos

Não se comemora o aniversário da Rádio Difusora Acreana, comemora-se uma conquista. Pois A Difusora é a rádio que faz chegar às mais remotas localidades do Acre a música e a notícia, tão necessários ao lazer, além de toda a informação às comunidades que não têm acesso a outras mídias, senão à sintonia das ondas curtas, médias, tropicais ou de frequência modulada (FM).
A Rádio Difusora Acreana nasceu em 1944. Os equipamentos vieram de avião e pesavam cerca de 400 quilos. Seu estúdio foi instalado no antigo Instituto Getúlio Vargas e em 7 de agosto de 1944 aconteceu a primeira transmissão da rádio em caráter experimental. Mas foi apenas no dia 25 de agosto que ela entrou no ar efetivamente, como ZYD-9. As instalações atuais, no centro da cidade, só foram ocupadas em 1 de maio de 1949.

O governador Silvestre Coelho foi quem fez o discurso de abertura: “Está no ar, pela primeira vez, a título de experiência, a Rádio Difusora Acreana. Aproveito o ensejo para enviar ao povo deste Território a minha saudação, desejando que este melhoramento seja, sobremodo, proveitoso ao desenvolvimento intelectual e ao progresso desta abençoada terra”.

O rádio é o meio de comunicação de maior alcance no interior do Acre. Apenas quem anda no interior, nos locais mais longínquos do Estado, é que pode avaliar a importância do rádio na rotina de quem vive na floresta, nas fazendas e colocações. Daí a importância de uma emissora moderna e sintonizada com o povo do Acre como a "A Voz das Selvas", apelido carinhoso dado pela população para a rádio.

O secretário de Comunicação Leonildo Rosas reconhece a importância gigantesca da Difusora para todo o Acre. “Não teria definição melhor que ‘A Voz das Selvas’.  É uma rádio que simboliza a integração de todo o nosso Estado, a Amazônia e muito além de suas fronteiras. A Difusora aproxima o Estado através de sua locução em uma região que ainda possui localidades de acesso tão difícil.”

Uma trajetória sem igual

O Rádio ainda é o meio de comunicação mais importante para quem vive na Amazônia (Foto: Secom)
Mesmo com a chegada da energia elétrica, e contrariando as tendências e afirmações de milhares de pessoas, o rádio não é substituído pela televisão. E a Difusora, ao longo de seus 67 anos, não perdeu sua importância. “A Difusora Acreana não é só testemunha viva da história do Acre, mas do Brasil e do mundo. Por ela foram divulgados os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, a cotação da borracha no mercado mundial e mensagens incontáveis de pessoas para pessoas”, lembra Antônio José, diretor da rádio.

Logo na entrada da Difusora, o cidadão encontra áudios de locutores e da programação, equipamentos antigos, fotos de servidores e entrevistados, e parte do acervo musical, que recepcionam os visitantes na pequena Sala de Memória adaptada para abrigar o arquivo histórico da emissora.

A rádio chega a todos os municípios e regiões mais isoladas do Acre. Não são somente mensagens de pessoas para pessoas, mas também mensagens institucionais, do governo e da Justiça, além do preço das mercadorias, e seu ponto mais forte, o radiojornalismo. Hoje, a Difusora tem 50 funcionários, distribuídos entre locutores, repórteres, técnicos e os responsáveis pelos transmissores e antenas instalados no alto do bairro Sobral, em Rio Branco. Tudo isso fazendo a rádio funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana, transmitindo 36 programas atualmente.

A Difusora saiu do vinil para o CD e rapidamente do CD para o digital. Todo o acerco da rádio foi digitalizado para o MP3, além de tocar qualquer outro formato de áudio e a transmissão via internet. A Rádio pode ser acessada online também, em qualquer momento, através da página do governo, www.ac.gov.br

De corpo e alma
Rubemar Tavares, 33 anos dedicados à Rádio Difusora
Emissora de rádio é  um meio de comunicação por emissão e recepção de informação, podendo ser realizada por radiação eletromagnética que se propaga através do espaço. Essa tecnologia de transmissão de som por ondas de rádio foi desenvolvida pelo italiano Guglielmo Marconi, no fim do século 19, e é usada ate hoje.

Por isso, vale lembrar que, embora a sede da Difusora funcione no Centro de Rio Branco, sua alma está um pouco mais longe, mais precisamente nos altos do bairro Sobral, onde se encontram as instalações dos dois transmissores e antenas que levam o sinal da Difusora para todo o Acre, Amazônia e até outros países.

São dois transmissores que funcionam na mesma frequência em ondas médias e um transmissor em ondas curtas, que faz chegar até o limite do Acre e ser captada em várias regiões do mundo, como mostra uma famosa carta recebida da Finlândia (norte da Europa), do ouvinte Hannu Tikkanen. O transmissor para o interior trabalha em ondas tropicais, enquanto o transmissor para a cidade funciona em ondas médias, que atinge um raio de 100 quilômetros.

As instalações na Sobral existem desde 1977. A primeira antena da Difusora havia sido instalada nos altos do antigo Colégio Meta, no Centro de Rio Branco, depois sendo passada para o Aviário, até ir para um dos pontos mais altos da cidade. “São ótimos, dão conta do recado. A única coisa que precisa é de um aumento de potência, pois a cidade cresce”, conta Rubemar Tavares, um dos operadores dos transmissores.

Tavares tem 33 anos de Difusora, sempre na área técnica. Nas instalações da antena, são dez funcionários - quatro são operadores. Tavares também ajuda nas transmissões esportivas e programas fora do estúdio com sua equipe. “A gente começa a trabalhar com rádio, e isso vai para o sangue. Você dá a alma. A gente pensa nisso não como trabalho, mas como diversão. É tão pegajoso que é até difícil de explicar. Isso aqui prende”, revela o técnico, que precisou vir até mesmo no último sábado, debaixo de chuva, para trocar telhas que voaram do teto da sede dos transmissores.

Na cidade, somos muito bem atendidos com telefone, internet e parabólica, mas Tavares ressalta que existem lugares no Acre em que só chega o sinal da Difusora. “A Difusora também é o telefone rural do produtor. Só nós, que trabalhamos na rádio, e eles, que usam esse veículo, sabem disso.”

A voz que virou dama

Nilda Dantas, a grande dama do rádio acreano (Foto: Secom)
Não apenas o aparelho, como o locutor da emissora, o qual o ouvinte muitas vezes não conhece pessoalmente, acaba se tornando um companheiro de uma multidão. Ao completar 67 anos, a Rádio Difusora Acreana não é apenas uma rádio, é  uma história de amor entre seus ouvintes e entre as pessoas que trabalham para que ela esteja nos ar todos os dias.

É o caso de Nilda Dantas, a grande dama do rádio acreano. Com sua primeira entrada na Difusora em 1971, ela é até hoje a campeã de cartas recebidas na emissora. Apresentou vários programas e hoje está no Espaço do Povo. “A vida no rádio é apaixonante. Sempre fiz meu trabalho com paixão”, conta Dantas. A radialista, que sempre teve o carinho do público, principalmente do interior, já ganhou vários prêmios de reconhecimento, sendo um dos mais importantes o de Jornalista Amiga da Criança, em Brasília, pelo seu trabalho de combate ao trabalho infantil.

“O rádio abriu várias portas na minha vida”, confessa Dantas, que diz ter feito todos os cursos possíveis para se aprimorar em voz e locução. Sobre o carinho dos ouvintes, ela é modesta. “As pessoas mostram um respeito e admiração por eu ter trilhado uma carreira equilibrada. Dei um perfil do meu trabalho de forma contributiva. Esses dias estava refletindo, eu fidelizei essa profissão na minha vida”, explica a locutora, que pretende trabalhar com o rádio "até ter saúde o suficiente para isso".

Atravessando a história

“Eu gosto do rádio, é a minha cachaça. Eu sofro de ‘microfonite’, não consigo largar o microfone”, conta com orgulho o radialista e empresário Jorge Cardoso. Ele começou na rádio em 1967, quando chegou do interior de Xapuri. Atuava na área técnica, na época que a rádio ainda pertencia à Secretaria de Educação. Estudou contabilidade e tentou se afastar do rádio por seus negócios pessoais. Não aguentou. Depois de 10 anos voltou para a rádio e soma as duas atividades. Comanda hoje o Jorge Cardoso em Ritmo Rural, no ar desde 1987. E pretende levar o rádio na sua vida até aonde der.

Cardoso se orgulha de falar da história da Difusora e seu período áureo. “Foi a primeira rádio na América do Sul a transmitir a notícia do fim da Segunda Guerra Mundial”, informa o radialista. “Na época a Difusora ficava ligada direto na BBC de Londres, e assim que eles deram a notícia, o pessoal da rádio repassou também.”

A Ditadura Militar até  os anos 80 também atingiu a trajetória da rádio. “Passamos pela ditadura. Não rodavam músicas específicas de Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e tantos outros. A Polícia Federal mandava uma lista com as músicas proibidas e se elas fossem tocadas, batiam à  porta”, relembra Jorge Cardoso. Ainda assim, para o radialista, a Difusora é só emoção “A Difusora é a cara do Acre.”

O período áureo

É o radialista Zezinho Melo, outro campeão de cartas de amor recebidas na rádio, que tem uma das trajetórias mais longas na Difusora. Hoje com 62 anos, ele começou aos 11 anos, como motoboy, e só depois passou para locutor esportivo. Em 1952 começaram as transmissões do futebol ao vivo de Rio Branco e o Território do Guaporé, que fazem sucesso até hoje.

Ele é um dos que mais lembra a era de ouro da Difusora, que teve até programas de auditório em 1960, na época de grandes nomes da rádio como Natal de Brito e Cícero Moreira. O auditório lotava de pessoas e foi nesse período que começou sua carreira. A rádio ia para os bairros, faziam shows lá e distribuíam prêmios para os melhores cantores e piadistas.

Cantores como Sérgio Reis, Evaldo Braga, Teixeirinha e Waldick Soriano passaram pela Difusora e cantaram ao vivo. Na época houve um problema com o Waldick Soriano, o governador Edgard Cerqueira mandou quebrar todos os discos do Waldick na rádio e prendeu dois radialistas que executaram suas músicas, tudo porque o cantor homenageou a então primeira-dama com uma canção bem romântica no show realizado na sede social do Rio Branco Football Club.

“A Difusora representa tudo na minha vida, é a minha casa”, revela Zezinho, que apresenta o Tarde de Emoções, no ar há 15 anos. “Já dormi aqui, colocava a rádio para funcionar logo de manhã cedo. O meu pai me trazia de carro, mas eu vinha para a rádio a pé. Nos dias que chovia, colocava a roupa num saco plástico e vinha de bermuda, me trocava quando chegava na rádio.”

Para o povo

Para algumas comunidades no interior do Acre, o que é dito no rádio é a realidade e a verdade, por isso a Difusora assume seu compromisso de fazer um trabalho informativo, jornalístico e de entretenimento, com qualidade e respeito.
As mensagens que chegam à  Difusora têm que ser lidas sem alterações. Os locutores são proibidos de mudar suas palavras com risco de mudar o entendimento, e alguns até  receberam críticas dos próprios autores das mensagens por verem seus conteúdos deturpados. Como uma carta que chega escrita: “Atenção Raimundo Luiz no Projeto Remaço colônia Barro Alto aviso que não viajamos hoge porque sabemo que voce xegava hoge se voce não xega hoge no viaja amanhã peso que ouvi este aviso peso transmiti o desti natário. Asina vose e Nonato”.

Para algumas comunidades no interior do Acre, o que é dito no rádio é a realidade e a verdade, por isso a Difusora assume seu compromisso de fazer um trabalho informativo, jornalístico e de entretenimento, com qualidade e respeito. Pois essa é a maior importância da rádio, a social.

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