22 de novembro de 2010

As vantagens de plantar seringueiras

Escrito por Tatiana Campos  

Borracha ainda é um produto econômico muito viável. Governo quer saber como melhorar as políticas do setor.

Seminário levantou discussão sobre políticas para o setor extrativista do Acre (Fotos: Angela Peres/Secom).

Transformar os 400 hectares de áreas alteradas que o Acre possui em florestas plantadas de seringueiras, uma árvore com alto potencial produtivo - produz um commodity mundial essencial para a indústria - e que pode gerar riqueza pelo simples fato de existir, através do pagamento de serviços ambientais por sequestro de carbono.

Plantar seringueiras e outras espécies para recuperar áreas alteradas e oferecer alternativas de renda para produtores é uma política de governo que faz do Acre o único estado da região Norte a ter uma política governamental definida para a borracha. Além do programa Florestas Plantadas, que incentiva o plantio da árvore da seringa, podem ser citadas a política do FDL, a Folha de Defumação Líquida, produzida principalmente por seringueiros de Assis Brasil que vendem toda a produção para uma empresa francesa. Há também a Lei Chico Mendes, e a Fábrica de Preservativos que utiliza látex de seringais nativos e beneficia diretamente 700 famílias. Em processo de instalação o Acre tem a fábrica de GEB (granulado escuro brasileiro), matéria-prima para a indústria de pneus, por exemplo, e a fábrica de bolas ecológicas.

O programa florestas plantadas e ações como a instalação da fábrica de GEB - que deve gerar 100 empregos diretos e beneficiar de mil a duas mil famílias de seringueiros que vão abastecer a indústria com o látex, faz parte de uma nova etapa no processo de desenvolvimento sustentável iniciado pelo Governo do Estado, que fez a opção de desenvolver economicamente o Acre com a condição de manter a floresta em pé e tirar dela a riqueza disponível de forma inteligente.
O que mais pode ser feito e como o estado pode melhorar ainda mais as condições para seringueiros e produtores familiares através de uma política da borracha é o que estava em discussão no seminário Política para o setor extrativista da borracha nativa para região Norte. O evento encerrou nesta sexta-feira, no auditório da Secretaria de Desenvolvimento Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof). Participaram da reunião secretários de estado, gestores, técnicos, pesquisadores, cooperativistas e líderes de organizações seringueiras, Conselho Nacional de Seringueiros (CNS), além de representantes de Roraima, Rondônia e Amazonas.

"O Florestas Plantadas está sendo implementado no Vale do Acre, onde há as fábricas que demandam a borracha. Queremos saber agora o que mais pode ser feito enquanto Governo para melhorar a produção e as políticas para o setor. O Acre faz parte da Câmara Temática sobre Borracha, ligada ao Ministério da Agricultura, que discute a borracha no Brasil e define políticas para a área. Nós somos o único estado do Norte com políticas definidas para a borracha", disse o secretário da Seaprof, Nilton Cosson.

Para o secretário de Florestas, Carlos Ovídio, o Resende, a borracha ainda é um produto economicamente viável e deve ser explorado no Acre para gerar riquezas e melhorar a qualidade de vida das famílias produtoras. "Nós temos vários empreendimentos que demandam borracha e essa demanda vai aumentar bastante. O mundo inteiro compra borracha e o consumo desse commodity está aumentando no Brasil, que importa parte da borracha que consome. Há um mercado a ser explorado".
Em Capixaba, mais de 200 produtores vão plantar seringueiras

Dentro da programação do seminário, o programa Florestas Plantadas foi lançado no município de Capixaba na tarde de quinta-feira. Os mais de 200 produtores que aderiram vão receber assistência técnica do Governo, que também prepara a área a ser cultivada e doa cerca de 40% das mudas. Cada produtor tem acesso a um financiamento bancário do Banco da Amazônia por meio do Pronaf, com juros diferenciados para adquirir mais mudas e o trato cultural, que inclui a adubação necessária.

Seu Pedro vai utilizar cinco hectares para plantar 2.750 árvores de seringa. E já pretende ampliar a área assim que os primeiros resultados forem obtidos e ele puder investir em novas mudas. "Eu tenho essa capoeira de imbaúbas que não servem pra nada e agora vou trocar por uma árvore produtiva e rentável, que também pode me beneficiar através do sequestro de carbono e dessa lei ambiental [Sisa - Sistema de Pagamento por Serviços Ambientais] que foi aprovada agora. E eu posso consorciar a seringueira com outras lavouras e até com o gado", disse o produtor
Sobre o programa

O programa Florestas Plantadas faz parte da Política de Valorização do Ativo Ambiental Florestal e tem quatro linhas: florestas energéticas, de produção, frutíferas e uma voltada para a utilização em móveis e artefatos. A primeira a ser trabalhada pelo Governo do Estado é a de produção, que agrega as espécies de castanheira e seringueira. A ideia do programa não é apenas plantar árvores para reflorestar áreas alteradas. Tudo faz parte de uma lógica de sustentabilidade trabalhada no conceito de gerar renda a partir da floresta em pé. Seringueiras e castanheiras, por exemplo, são duas espécies com potencial produtivo dentro da economia de base florestal. A seringueira é a grande aposta, pois além da produção de látex, ela tem uma capacidade bem maior que outras árvores de sequestrar carbono na atmosfera. Segundo o pesquisador da Embrapa Acre, Rivadalve Gonçalves, além de incorporar o gás à madeira, ela o transforma em látex.

O Florestas Plantadas iniciou em Xapuri com o objetivo de atender a demanda das fábricas de camisinha, já instalada, de bolas ecológicas e de GEB - em instalação, além de reflorestar áreas que sofreram ação humana. A meta do Governo do Estado é proporcionar a plantação de 10 mil mudas de seringueira em seis anos.

O plantio de seringueiras vai ajudar no abastecimento de látex para as indústrias, que será misturado ao látex de seringais nativos para que a produção não perca a qualidade, ganhe produtividade e continue a gozar de sua principal característica: utilizar látex de seringueiras nativas, manejado por populações tradicionais da floresta.

Agência de Notícias

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