14 de junho de 2010

Por que a FPA contagia há 20 anos

Por Józimo de Sousa
Especial para A TRIBUNA

Há duas décadas a história do Acre tem um capítulo protagonizado pela Frente Popular. Liderada pela ousadia de uma juventude que tinha à frente “os meninos do PT”, como o governador Edmundo Pinto chamava aquele movimento, a Frente Popular nasceu, ganhou vida e se firmou como uma força política que não pode ser definida como uma reunião de legendas, mas um grande e sólido partido político, tendo em vista suas apostas, suas lutas, seus projetos, suas conquistas e sua unidade, marca maior dessa trajetória.

O Acre é, de longe, o único Estado brasileiro onde uma força política se mantém viva e fortalecida por 20 anos e há 12 está no governo. A FPA deixou de ser uma aliança de partidos faz anos. É hoje um projeto político único, decepcionando quem, há 20 anos, apostava que aquela audácia não iria tão longe. Depois, em 1999, com a vitória do jovem engenheiro florestal Jorge Viana para o governo, aquelas mesmas pessoas tornaram a teimar e arriscaram uma segunda aposta, perdendo outra vez.

Diziam que a Frente Popular não sobreviveria a dois governos. Está concluindo o terceiro e com os dois pés dentro do quarto mandato, agora com o médico e um dos maiores nomes que o Senado teve a oportunidade de conhecer, Tião Viana, um senador do Brasil.

O NASCIMENTO

A história da Frente Popular remonta ao final dos anos 70 e início dos anos 80, quando os seringueiros de Brasileia e Xapuri travavam uma guerra quase silenciosa contra os pecuaristas apoiados pelo então governador Wanderlei Dantas.

Ao mesmo tempo surgiam as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), movimento liderado por religiosos católicos, responsável pela fundação de sindicatos de seringueiros, da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) e de associações rurais e urbanas.

Aos poucos, em meio a essa ebulição dos movimentos sociais, dentro da Universidade Federal do Acre (Ufac), os estudantes iniciavam a construção daquilo em que hoje se transformou a Frente Popular. Nasciam o PT e o PC do B por meio de correntes estudantis como Viração e Caminhando, adversárias ferrenhas.

O movimento estudantil aliado às lutas dos sindicados e às apostas da Igreja Católica em Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Brasileia e Xapuri, fez surgir o PT e o PC do B no Acre, raízes da Frente Popular.

Foi dessa junção de forças e ideias, dos movimentos estudantil, sindical e religioso que começaram a surgir nomes como Marina Silva, Binho Marques, Carioca, Chico Mendes, Antônio Monteiro, Naluh Gouveia, Marcos Afonso, Júlia Feitosa, e tantos outros em Rio Branco; e Edvaldo Magalhães, Perpétua Almeida e Moisés Diniz, em Cruzeiro do Sul. Ali estava o embrião, a quem mais tarde se juntariam Jorge e Tião Viana, e fundariam, em 1989, a Frente Popular.

O tempo foi passando, o projeto se consolidando, ganhando corpo e alma, mas os adversários, teimosos à exaustão, não se cansam de apostar no fracasso da Frente Popular.

Juventude

A história da FP é uma das razões também que leva a juventude ao delírio e a contagiar os mais antigos. Nada, em lugar nenhum do Brasil, se compara ao projeto da Frente Popular no Acre, que apesar de ter passado dos 20 anos, não envelhece, ao contrário, se renova e se alimenta da própria história e de sua militância, dos movimentos sociais e da coragem de todos que apostam na união e no progresso do Acre.

Os mais antigos estão eufóricos com a nova geração protagonista de uma cena que vislumbra um amanhã bem próximo de novas vitórias. Ainda bem que o novo, o que nasce agora e se cria nessa realidade tão positiva faz um bem grandioso para o Acre. A juventude, a militância que chega agora, se junta aos mais antigos e formam a mesma corrente. A corrente da esperança liderada por Jorge Viana, Tião Viana, Binho Marques, Edvaldo Magalhães e César Messias.

Convenção histórica

E quinta-feira passada, novamente, esses apostadores voltaram a se decepcionar. Pelas informações da Polícia Militar, pelo menos oito mil pessoas – sem contar as que não ficaram por falta de local para estacionar seus veículos ou se acomodar no interior do Ginásio Coberto -, compareceram à convenção da Frente Popular que homologou as chapas majoritária e proporcionais da coligação de 14 partidos.

O evento comoveu, emocionou, contagiou. A convenção se transformou numa festa e num belo encontro de diversas gerações. Os “meninos do PT” cresceram, alguns ganharam barba e cabelos brancos, estão mais experientes, e estavam lá, firmes, vibrantes, vestidos nas velhas camisetas vermelhas e empunhando as inseparáveis bandeiras da Frente Popular.

E a beleza da festa não se restringiu às velhas gerações que estavam animadas, cantando o Hino Acreano com toda a força do coração. Eles ainda se emocionam como lá no início, eles ainda trepidam, os sonhos são reabastecidos a cada peleja.

Uma das cenas mais emocionantes daquelas oito mil pessoas foi protagonizada pela nova geração de militantes da Frente Popular. Eram milhares de jovens, de camisetas, bandeiras, cantando, batendo palmas, pulando de alegria e estremecendo com as candidaturas, com seus sonhos e com as melhores apostas pelo Acre.

Militantes antigos, testemunhas do parto desse projeto vitorioso, apesar de todas as certezas, ainda se questionam, diante de atos tão grandiosos como o de quinta, no Ginásio Coberto, e perguntam o que leva um sonho de tantos anos como a Frente Popular, que passou de duas décadas e há 12 anos governa o Estado, dar tão certo, permanecer esse tempo todo coeso, unido, resistente, sólido e conquistando todas as disputas?

A fé, a crença e a confiança poderiam responder. Assim como a unidade de pessoas compromissadas com essa terra e o desejo por um Acre mais humano, igualitário, desenvolvido, como o iniciado por Jorge Viana no primeiro mandato, seguido no segundo, acompanhado agora por Binho Marques que vem fazendo uma revolução na inclusão social, e que será ainda melhor com Tião Viana a partir de 2011.

O que os governos da Frente Popular fizeram pelo Acre, tirando-o da situação de abandono, de desorganização, e pondo-o numa condição privilegiada, com a casa organizada, com a figura respeitada do estado de direito e respeitado Brasil afora, é o que levam as pessoas a apostarem na continuidade do projeto. Daí a razão de um Ginásio Coberto lotado para uma convenção, por exemplo.

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